Espólio Literário Alexandre Cabral
Nível de descrição
Fundo
Código de referência
PT/MVFX-MNR/A4/ESPLIT-CAB
Tipo de título
Atribuído
Título
Espólio Literário Alexandre Cabral
Título paralelo
ESPLIT-CAB
Datas de produção
1864
a
2002
Dimensão e suporte
Aprox. 1 800 doc's
Extensões
73 Caixas
5 Pastas
11 Álbuns
13 Maços
Entidade detentora
Município de Vila Franca de Xira. Museu do Neo-Realismo
Estatuto legal
Doado
História custodial e arquivística
O Espólio Literário Alexandre Cabral foi destinado pelo próprio escritor ao Museu do Neo-Realismo. A sua incorporação no acervo documental do museu teve início em 1992, embora apenas tenha sido concluída após a morte de Alexandre Cabral, em dezembro de 2013.Este espólio constitui um acervo documental particularmente importante, não apenas pelo volume de originais que incorpora e cuja variedade dá ideia da dimensão de produção literária do autor, mas também pela qualidade da informação disponível para o estudo do escritor e da época."(...) Nascido em 1917, Alexandre Cabral está cronologicamente próximo de Joaquim Namorado (1914-1986), Mário Dionísio (1916-1993), Vergílio Ferreira (1916-1996), Álvaro Feijó (1917-1941), Jofre Amaral Nogueira (1917-1973), Joaquim Ferrer (1917-1994), Fernando Namora (1919-1989) ou João José Cochofel (1919-1982). Mas, mais importante do que isso vai partilhar com todos, porventura os mais importantes de um conjunto bem mais numeroso, uma experiência (isto é, um modo determinado de identificar o presente) e a sua abertura a um determinado horizonte de expetativas.Em 1937, publicou os dois primeiros livros, "Cinzas da nossa alma" e "Parque Mayer" em chamas. Antes, já afetivamente conquistado pela aventura literária fora o jovem diretor de "A Voz da Mocidade" (nº 1: 1 de maio de 1936). Desenvolve uma atividade cultural febril. Com o nome que se tornou o seu (Alexandre Cabral é, na realidade o pseudónimo de José dos Santos Cabral) ou com o outro pseudónimo de Z. Larbak, desdobra-se literariamente em grande número de textos (crónicas, ensaios, contos e novelas, entrevistas, poemas) e marca presença em iniciativas de caráter cultural, como a Tertúlia Autodidata Naturalista e o Núcleo Cultural de "A Voz da Mocidade".O que então polariza o esforço do jovem publicista é a ambição adolescente de tornar a Literatura e a Arte meios de desenvolvimento da mentalidade da juventude portuguesa, como o editorial de "A Voz da Mocidade" claramente enuncia. Aí pode ler-se: “Conservar-nos-emos completamente alheios à política, sendo só o nosso fim e o nosso grande desejo servir de incitamento aos rapazes pelo amor da literatura e mostrar aos Mestres até onde chega o nosso poder intelectual”. Depois: “Todos nós demos um grande passo ao fundar-se o Ministério da Educação Nacional, onde vamos encontrar finalmente o forte baluarte que em vão procurávamos para a formação e unificação da Mocidade Portuguesa. Lançámos juntamente com o primeiro exemplar o nosso primeiro apelo à juventude em geral, para que nos prestem o seu valioso apoio e colaboração na pesada e arrojada empresa a que metemos ombros e que sem a qual nos será difícil senão impossível, vingar”. Finalmente: “Contamos portanto desde já com a colaboração de todos os jovens de Portugal, quer sejam de Lisboa, quer da província, publicando todos os jornais que nos enviem, desde que se coadunem às directrizes por nós traçadas e a que não queremos de forma alguma fugir”. O interesse dos oito números publicados entre maio e setembro de 1936 reside “nessa característica, comum a estes jornais de moços entre a adolescência e a juventude, de uma irreprimível vontade de revelação de valores, de espontâneo impulso em participar, em aparecer a público através das letras”.É num ideal de moderação autodisciplinada entendida como fulcro de retidão moral que se concentra nesses anos o combate de Alexandre Cabral. O mundo da expressão literária era, antes de mais, “a expressão exacta e veraz do mundo que, no fim de contas, tão precariamente se conciliava com a minha experiência vivencial, restringida aos episódios mais ou menos rocambolescos de uma existência em constante rebeldia contra os altos muros da cerca conventual (onde estava instalado o Instituto [dos Pupilos do Exército]) que delimitavam os horizontes”.É, pois, por uma atração pela literatura enquanto veículo de revolta consciente de si mesma, que Alexandre Cabral faz o seu caminho, desprendendo-se progressivamente de uma consciência modelada pelo ideal da elevação moral em favor de uma posição perante as contradições históricas da época.Por outras palavras: fundamental é perceber quando e como a inquietação, a espontaneidade impulsiva, que é o traço embrionário da experiência juvenil, vai adensar-se numa consciência refletida cada vez mais correlativa de um horizonte de expetativas cedo polarizado pela ideia de comunismo.No caso desta geração, esse processo (que é o processo de constituição do neorrealismo) é rápido, embora de uma rapidez que deve ser estudada individualmente caso a caso. É possível, no entanto, fixar alguns elementos gerais. (...)" (Pita, 2017).A intenção de doar à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira este conjunto de bens culturais contribui para a sua preservação, conservação, investigação e divulgação.ReferênciaPita, A. P. (2017). "O sol nascerá um dia" ou o percurso de Alexandre Cabral para o neorrealismo. In Museu do Neo-Realismo, Alexandre Cabral: memória de um resistente [catálogo de exposição] (pp. 19-32). Vila Franca de Xira: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Museu do Neo-Realismo
Âmbito e conteúdo
O acervo documental contém os seguintes temas: Produção literária do autor; História pessoal do autor; Correspondência; Vária; Fotografia; Impressos; Documentos de outros; Artes plásticas, decorativas e outras; Objetos; Monografias e publicações periódicas; Documentos pós-morten.No que concerne à produção intelectual de Alexandre Cabral, no seu Espólio Literário encontramos as versões preliminares, provas tipográficas manuscritas e datiloscritas com emendas e notas à margem, documentação de suporte aos livros que publicou. De mencionar os títulos “Malta brava”, “Margem norte”, “Memórias de um resistente”, “O sol nascerá um dia”, “Contos da Europa e da África” e “Histórias do Zaire”. Este espólio compreende também originais da obra ensaística do autor, destacando-se a bibliografia camiliana, nomeadamente a “Correspondência de Camilo Castelo Branco”, as “Polémicas de Camilo”, bem como outros documentos sobre a temática.No que diz respeito à correspondência, é importante ressaltar que a mesma apresenta uma arrumação prévia originária e que se manterá fechada à consulta, por vontade do escritor, até 2046. Ao nível do suporte fotográfico, destaca-se o facto de Alexandre Cabral ter no seu espólio fotografias de África, Brasil, Cuba e URSS, bem como fotografias referentes aos Pupilos do Exército e a eventos como as Celebrações Camilianas e os Congressos de Escritores Portugueses.Este espólio integra, ainda, recortes de imprensa em volumes encadernados, de várias autorias e de múltiplas temáticas, abrangendo o período de 1936 a 1996.Em documentos de outros encontramos provas tipográficas manuscritas e datiloscritas de autores como: Jaime Cortesão, Sidónio Muralha, Casimiro de Brito e João Gaspar Simões.Destaca-se, também, uma significativa coleção de artes plásticas, nomeadamente desenhos de Alexandre Cabral executados aquando da sua prisão no Aljube, zincogravuras relativas a obras do autor e uma coleção de medalhística.Em objetos pessoais mencionamos o facto de termos recebido três máquinas de escrever, uma secretária e uma cadeira de madeira do autor, entre outros objetos.Importa ainda referir que, juntamente com o arquivo pessoal, foi doada uma biblioteca com cerca de 1160 monografias e um número considerável de publicações periódicas, que se encontram tratados bibliograficamente em base online Koha.
Palavras-chave
Neo-Realismo; Literatura Portuguesa Séc. XX; Arquivos--Arquivística; Manuscritos; Escritores; Correspondência; Artes Plásticas
Tradição documental
Papel (originais e fotocópias); Fotografia (provas de gelatina e prata); Objetos
Tipologia documental
Produção literária do autor (ficção narrativa - romance; conto; novela; crónica; teatro; ensaio); História pessoal do autor (biografias; bibliografias; depoimentos; entrevistas; inquéritos); Correspondência (correspondência expedida; correspondência recebida); Vária (atividades culturais; atividades associativas; atividades políticas; atividades profissionais; documentos pessoais; apontamentos; atividades de caráter geral); Fotografia; Impressos (críticas à obra; notícias sobre a obra; relacionados com o autor; homenagens; vária sem referência ao autor; material gráfico diverso); Documentos de outros (produção do autor; correspondência; vária); Artes plásticas, decorativas e outras;Objetos (objetos pessoais);Monografias e publicações periódicas (Biblioteca Particular inserida em base bibliográfica online Koha; Disponível em: https://catalogo.cm-vfxira.pt/); Documentos pós-morten (impressos)
Sistema de organização
O fundo (F) foi organizado segundo critérios temático-funcionais que seguem o plano de classificação adotado. O sistema organizativo reflete a análise documental representada em séries (SR) e subséries (SSR) documentais.A organização e divisão documental tem em consideração o princípio da proveniência, isto é, a relação entre os documentos de arquivo e as pessoas coletivas ou singulares que produziram, acumularam e conservaram os documentos.
Plano de classificação
Centro de Documentação e Espólios Literários (CDEL), Museu do Neo-Realismo (MNR): Classificador alfanumérico, elaborado segundo IPQ, NP 4041, 2005
Condições de acesso
Consulta presencial
Condições de reprodução
Sujeitas ao estabelecido no contrato de doação
Localização física depósito
Reserva 3
Idioma e escrita
Português
Características físicas e requisitos técnicos
A documentação encontra-se em estado razoável de conservação, não necessitando de cuidados especiais na sua consulta e manuseamento.
Instrumentos de descrição
IPQ, NP 4041, 2005: Normas Portuguesas de Informação e Documentação, Terminologia Arquivística e Conceitos Básicos;ISAAR(CPF): Norma Internacional de Registo de Autoridade Arquivística para Pessoas Coletivas, Pessoas Singulares e Famílias; ISAD(G): Norma Geral Internacional de Descrição Arquivística; ODA: Orientações para a Descrição Arquivística
Notas
De 11 a 26 de outubro de 1996, esteve patente em Vila Franca de Xira uma exposição biobibliográfica sobre Alexandre Cabral, que teve lugar na Galeria da Biblioteca Municipal, no Café Central e na Galeria Municipal de Exposições. Esta exposição culminou na publicação de um catálogo: “Alexandre Cabral: um escritor, uma época”, edição do Município de Vila Franca de Xira, 1996:Alexandre Cabral : um escritor uma época / org. Câmara Municipal de Vila Franca de Xira ; textos Urbano Tavares Rodrigues [et al.] . - Vila Franca de Xira : Câmara Municipal , 1996 . - 44 p. : il., fotos p & b ; 24 cm (Coleção Museu do Neo-Realismo - MNR CAT/ALE/7853)De 25 de fevereiro a 25 de junho de 2017, foi realizada uma exposição no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira, intitulada "Alexandre Cabral: memória de um resistente”. Esta exposição originou a publicação de um catálogo com o mesmo título, edição de Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Museu do Neo-Realismo, 2017:Alexandre Cabral : memória de um resistente ; coord. Fátima Faria Roque ; textos Alberto Mesquita, António Pedro Pita, Odete Belo . - Vila Franca de Xira : Câmara Municipal, Museu do Neo-Realismo, 2017 . - 97,[2] p. : il. color ; 23 cm (Coleção Museu do Neo-Realismo - MNR CAT/ALE/9083)
Relações com registos de autoridade